O Mês de Março/08 se inicia com as expectativas acerca de uma recessão americana ainda inconclusivas, o investidor terá de redobrar a cautela e tentar olhar para seu portfólio sob um ângulo à frente da crise.
Infelizmente, não creio que o mês de março tenha suficiente “estopa” para trazer argumentos que esgotem a incerteza quanto à profundidade da crise, e por conseqüência a volatilidade seguirá imperando, e os preços no Brasil tendem a balançar, em alguma medida, ao ritmo dos mercados globais.
O aparente descolamento observado em fevereiro - com alta de 6,72% do Índice Bovespa (Ibovespa) e queda de 3,98% do dólar em relação ao real - terá de ser confirmado. Afortunadamente, ao meus ver, a economia brasileira tem fundamentos que justifiquem aplicações em ações, no real e em títulos prefixados. No curto prazo, os riscos estão, entretanto, atrelados à percepção de que o andar com freio de mão puxado nos Estados Unidos talvez não esteja de todo no valor dos ativos.
FATOS MARCANTES PREVISTOS PARA MARÇO/08
O mês começa com a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidirá, na quarta-feira (05/03/08), se impõe alguma mudança ao juro de curto prazo no Brasil.
O consenso é de que o colegiado do Banco Central (BC) manterá a Selic em 11,25% ao ano, mas as atenções estão voltadas para a ata do encontro, a ser divulgada na próxima semana. É no tom expresso no documento que os agentes financeiros buscarão pistas sobre a eventual necessidade de um aperto monetário mais adiante. Se o câmbio valorizado tem ajudado, a alta das commodities e a expansão da atividade econômica local podem pressionar os índices de inflação.
Na sexta-feira, por exemplo, as Letras do Tesouro Nacional (LTN, prefixadas), com vencimento em 1º de outubro de 2009, pagavam retorno de 12,39% ao ano. Se tudo correr bem e a Selic for mantida em 11,25% ou cair até o resgate, o investidor terá travado, agora, uma rentabilidade melhor do que os juros que estarão vigentes lá na frente. Embora haja dúvidas sobre o rumo da Selic ao longo de 2008, no médio prazo, espera-se a taxa primária reencontrará a sua rota de queda.
Naturalmente, se isso se confirmar, os juros mais baixos reforçam a perspectiva positiva para a bolsa.
RETROSPECTIVA DAS ULTIMAS RECESSÕES NOS EUA
As últimas duas recessões, em 1990 e 2001, levaram cerca de oito meses. Embora a identificação desses períodos seja um tema controverso entre os próprios economistas, uma regra bastante comum é de que uma economia está em recessão quando o PIB trimestral, medido a taxas anuais, é negativo por dois trimestres seguidos.
A tendência é de que com a economia brasileira em expansão, as companhias seguirão mostrando bons resultados e isso, em algum momento, vai se refletir no valor das ações.
Muitos, por sua vez, acreditam que os mercados financeiros internacionais, em especial o americano, já estão ajustados a uma recessão suave nos EUA, como a observada em 2001. Assim, não haveria muito espaço para uma nova rodada de desvalorizações globais. Se os principais índices acionários ficarem no chove-não-molha, sem muita tendência, seria o melhor dos mundos para a bolsa brasileira. Sem grandes solavancos lá fora, o mercado doméstico conseguiria reagir de modo mais consistente ao enfraquecimento do dólar, à queda dos juros americanos e à relativa sustentabilidade do crescimento mundial.
Por sua vez, com o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) injetando liquidez nos mercados e a fuga dos investidores de ativos denominados em dólar, os maiores beneficiados seriam as commodities e as moedas emergentes - com novas valorizações da taxa de câmbio brasileira.
Com a continuidade do ciclo de alta de commodities, é razoável supor que o Ibovespa continuará subindo. O risco, vale recordar, é a recessão não estar de todo precificada, o que acabaria esbarrando nas commodities e no valor de mercado das companhias listadas na Bovespa.
E NO FRIGIR DO OVOS, O QUE PODEMOS ESPERAR?
Bom, há uma tendência de que só a partir do segundo semestre é que a bolsa brasileira deve assumir uma tendência mais consistente de alta. O primeiro semestre deve seguir ainda muito volátil, há muita incerteza sobre o desdobramento da crise dos EUA e ninguém sabe qual será o real impacto na atividade, quanto tempo a economia vai sofrer ou quanto leva para sair de uma recessão. Até lá, penso que as ações de primeira linha tendem a ser privilegiadas, leia-se, em especial, PETROBRAS e VALE.
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