terça-feira, 18 de março de 2008

Fed faz sexto corte consecutivo e juros nos EUA caem para 2,25% ao ano

Prezados,

O Federal Reserve (Fed, o BC americano) efetuou nesta terça-feira o sexto corte consecutivo de juros desde que deu início a seus esforços para tentar evitar uma recessão nos EUA. A taxa básica de juros do banco caiu 0,75 ponto percentual, para 2,25% ao ano - nível em que se encontrava em
dezembro de 2004.

Os cinco cortes efetuados antes do ocorrido hoje, no entanto, pouco fizeram para evitar que a atividade econômica americana desacelerasse de modo alarmante: no quarto trimestre, a economia
cresceu apenas 0,6%, contra um avanço de 4,9% um trimestre antes.

O corte de juros do Fed não conseguiu estimular os consumidores a continuar gastando, ou mesmo a ampliarem seus gastos -como se viu nas vendas no varejo nos EUA em fevereiro, que caíram 0,6% em fevereiro, mesmo com os juros do Fed tendo passado de 5,25% para 3%.

Em janeiro houve uma ligeira alta de 0,4%, mas o dado do mês seguinte praticamente anulou o indicador positivo.

A economia ainda sofreu outro abalo no mercado de trabalho: depois de eliminar 22 mil empregos em janeiro, a economia perdeu outros 63 mil no mês passado.

No governo, a eficácia das medidas para evitar a recessão já é, mesmo que veladamente, contestada. O chefe dos conselheiros econômicos da Casa Branca, Edward Lazear, reconheceu que o PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas por um país) americano pode registrar um resultado negativo neste primeiro trimestre. "Nós definitivamente reduzimos nossa previsão para este trimestre", disse Lazear.

O presidente americano, George W. Bush, sancionou no mês passado um pacote de estímulo econômico ao país que dará cheques de restituição de impostos a milhões de norte-americanos.

A estimativa inicial do Tesouro americano era de começar a enviar os cheques em 60 dias a partir da aprovação das medidas, ou seja, maio. Mais de 130 milhões de pessoas serão beneficiadas.

O pacote prevê uma restituição de US$ 600 para cada contribuinte com renda anual de até US$ 75 mil; e US$ 1.200 para casais com renda até US$ 150 mil, além de US$ 300 adicionais por filho. Quem não não paga imposto de renda, mas recebe o teto de US$ 3 mil anuais, terá direito a cheques de US$ 300.

No início deste mês, Bush chegou a pedir aos contribuintes que serão beneficiados com os cheques do pacote que gastem, e não guardem em poupanças, ou invistam e mesmo paguem dívidas.

Taxa de Redesconto
Assim como os consumidores não se sentem estimulados a gastar mais com as ações do Fed, temendo uma retração da economia, os bancos também tendem a desconfiar da ação do banco central.

No domingo, o banco cortou sua taxa de redesconto para 3,25%. A taxa de redesconto é um instrumento do Fed para conceder empréstimos de curto prazo a instituições com problemas temporários de liquidez (oferta de dinheiro).

O instrumento, no entanto, é utilizado com cautela pelas instituições financeiras: as que recorrem a empréstimos com essa taxa ficam de certo modo marcadas como instituições fragilizadas, que não conseguem empréstimos em outras fontes e têm de recorrer ao "concessor do último recurso" - papel que cabe ao Fed.

Panorama
No terceiro trimestre do ano passado, a economia tinha um panorama bem diferente do que se viu no quarto --pelo menos durante o mês de julho. À época, a Bolsa de Valores ainda estava em clima de euforia, tendo chegado ao patamar recorde até então de 14 mil pontos. A economia, que havia crescido 0,7% no primeiro trimestre, apresentou uma alta de 4% no segundo.

Em agosto, no entanto, já com o terceiro trimestre iniciado, um novo elemento passou a fazer parte do cenário financeiro: o banco francês BNP Paribas anunciou que iria suspender os resgates em fundos com investimentos em títulos ligados às hipotecas do segmento de mercado conhecido como "subprime" (que reúne clientes com histórico de problemas com crédito).

A inadimplência nesse segmento do mercado hipotecário cresceu e, desde então, os abalos causaram perdas de bilhões em gigantes do setor financeiro, como Citigroup, Merrill Lynch, UBS, Lehman Brothers e o Bear Stearns --que acabou vendido neste domingo (16) ao JP Morgan.

Na raiz da crise de crédito está uma outra crise, a do setor imobiliário. Após atingir um pico em 2006, os preços dos imóveis passaram a cair: os juros do Fed, que vinham subindo desde 2004, encareceram o crédito e afastaram compradores; com isso, a oferta começa a superar a demanda e desde então o que se viu foi uma espiral descendente no valor dos imóveis.

Os Pessimistas
A recessão, se não chegou ainda, está a caminho --pelo menos na visão de alguns nomes de peso no setor financeiro. No início do mês, o megainvestidor Warren Buffett disse que a economia dos EUA já está em recessão "na teoria". "Além de qualquer definição, nós estamos em recessão", disse.

Outro a pintar um cenário negativo foi o ex-presidente do Fed Alan Greenspan. Em artigo de ontem no jornal britânico "Financial Times", ele afirmou que a crise financeira atual pode ser considerada a mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

"A atual crise financeira nos Estados Unidos será verdadeiramente julgada como a mais grave desde o fim da Segunda Guerra mundial", diz o texto. "Ela chegará ao fim quando o preço dos bens imobiliários se estabilizar e, com ele, os preços dos produtos financeiros endossados em empréstimos hipotecários."

Em uma pesquisa divulgada na semana passada, economistas ouvidos pelo diário americano "The Wall Street Journal" também vêem a economia americana caindo em recessão. Segundo a pesquisa, 71% dos 51 economistas entrevistados disseram que o país já está em recessão. Pouco menos da metade (48%) dos economistas entrevistados disseram que a recessão de 2008 será pior que a de 2001 e a de 1990-91.

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