segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Brasileiros ainda confundem investimento com jogo

O brasileiro tem o péssimo hábito de confundir seus investimentos com jogo.

Observe, muitos começam a considerar investir em bolsa apenas quando um parente, amigo ou conhecido que já trabalhou em banco ou qualquer área do mercado financeiro aparece com uma "dica" de ação. Ou ainda quando os ganhos do principal índice de ações da bolsa, o Ibovespa, chegam a patamares tão exuberantes que começam a virar manchete.


Ele nem se dá conta de que, quando lê ou ouve que a bolsa está em alta ou baixa, em geral as manchetes se referem apenas ao Ibovespa. Ou melhor, ao fechamento do Ibovespa. A média do índice no dia nem mesmo aparece nas notícias. Em tempos de volatilidade alta, é possível ver o fechamento ir para uma direção e a média está no sentido contrário. O fato é que, na maior parte dos casos, o brasileiro não faz o dever de casa antes de fazer suas aplicações. Um dinheiro que ele batalha muito para conseguir, mas que entrega sem a menor cerimônia ao primeiro que aparece acenando com lucros fantásticos, sem risco e que vai deixá-lo rico. Ele acredita firmemente nessas promessas.


Pesquisa do Instituto Nacional de Investidores (INI) mostra números bastante interessantes do perfil do investidor brasileiro hoje e, o que é ainda mais interessante, indicações do que ele quer ser.


O primeiro dado que chama atenção: 62% dizem que não investem na bolsa porque não têm recursos e 46% dizem que "não entendem do negócio". Note que a pesquisa abordou um grupo do qual 43% têm uma renda mensal entre R$ 3 mil e R$ 8 mil e 29% têm renda acima de R$ 8 mil. Ou seja, mais de 70% dos entrevistados têm uma renda mensal acima do atual teto do benefício pago pelo INSS e, portanto, vai precisar da previdência complementar para manter seu padrão de vida depois de aposentado. E, se assim é, não pode dispensar o mercado de ações, pois ele é importantíssimo para carteiras de investimentos de longo prazo como as que se destinam a financiar a aposentadoria. O provável é que ele não tenha planejamento financeiro ou não tenha informações atualizadas, por isso diz que não tem recursos. Isso porque hoje já é possível começar a investir em ações com R$ 100. Oras, para quem tem uma renda mensal de R$ 3 mil é cerca de 3% da renda que ele estaria dedicando ao investimento, o que é perfeitamente razoável.


Quanto a "não entender do negócio" sinaliza, no mínimo, que ele não tem o menor interesse pelo tema. Pois, se quiser, em poucos cliques navegaria num mar de investimentos, só para citar as informações disponíveis na internet. O próprio site do INI (www.ini.org.br) tem muitas informações gratuitas à disposição do investidor. Nas livrarias, nunca se viu tantos títulos de finanças e investimentos pessoais à disposição do investidor e os jornais e revistas cada vez mais têm áreas dedicadas à cobertura de finanças e investimentos pessoais. Portanto, o problema hoje não é falta de informação, mas sim o excesso.


Um dos primeiros trabalhos a fazer é selecionar quais as fontes confiáveis de fonte de informação. Há muitas informações na pesquisa do INI. Chamam também a atenção aquelas que indicam o desejo do investidor brasileiro. Ele quer ter sua própria carteira de ações e se interessa bastante em ser sócio de bons negócios. "Ficou claro que há uma tendência de investir diretamente em ações", diz Gustavo Poppe, presidente do INI.


A pesquisa, segundo ele, serviu para criar diretrizes de ações para o Instituto no próximo ano e está claro que o mercado de ações entrou de vez no radar do investidor. Os dirigentes do INI estão convencidos de que o brasileiro quer direcionar parte de suas economias ao mercado de ações e, para abril, já programa o I Congresso Brasileiro do INI, que tem como meta reunir os pequenos acionistas individuais que hoje compõem a base de cadastrados do Instituto. Dos cerca de 200 mil acionistas individuais hoje existentes no país, algo em torno de 10% já estão cadastrados no INI, que quer fazer da informação e educação a grade de proteção contra perdas provocadas por euforias e eventos especulativos. Do total de entrevistados, 59% querem eventos exclusivos de empresas para pequenos investidores. Segundo Poppe, desde abril o INI já faz encontros com esse público com empresas abertas.


Já participaram dessas reuniões, por exemplo, Petrobras, Vale do Rio Doce, Natura e Banco do Brasil. A idéia, diz ele, é aumentar a freqüência dessas reuniões em 2007.


Fonte: Jornal Valor de 20/11/06

Mara Luquet é editora da revista ValorInveste e autora do Guia Valor Econômico para o Planejamento da Aposentadoria

e-mail mara.luquet@valor.com.br

2 comentários:

beth disse...

Aqui nos Estados Unidos assisto diariamente o Nightly Business Report, de aprox. 30 minutos, na televisao local - nao cabo. A midia nos ajuda a manter "aware" dos acontecimentos financeiros e do movimento nas bolsas americanas. Redes de televisao no Brasil poderiam fazer o mesmo -- criar um espaco, serio e substancial, na programacao diaria local voltado aos investidores ... aqui uma ideia para a Bovespa, empresas e instituicoes interessadas. E como ja nao se bastasse um programa na televisao local, no horario nobre, Voce ainda pode rever ou assistir em streamline video e ler o transcript do show diario ... interessados, aqui o link para o transcript da edicao de novembro 17, 2006 http://www.pbs.org/nbr/site/onair/transcripts/061117g/
pra assistir o streamline video, procure por On Air.
Excellent blog Bussola de Financas. Obrigada por compartilhar seu expertise, gratuitamente, com nosoutros brasileiros abroad. Beth Berg

BUSSOLA DE FINANCAS disse...

Beth,
Agradeço seu comentário.
Sem dúvida, a cultura de investimento bursátil do EUA é outra conversa... Economizar e Investir são conceitos muito difundidos na sociedade.
Continue dando sua opinião!!!
[ ]´s
Bussola de Finanças