sábado, 13 de janeiro de 2007

ILUSOES DO MERCADO ACIONARIO

MERCADO DE AÇÕES

Altas exorbitantes não são reais




Empresa cujo papel valorizou 2.344% em 2006 teve patrimônio líquido negativo.

Dentre as 18 ações que mais valorizaram na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no acumulado do último ano, cinco delas são de empresas com patrimônio líquido negativo e uma delas encontra-se em concordata. A companhia DHB, por exemplo, que atua no ramo de componentes automotivos, foi a líder de valorização em 2006, registrando alta de 2.344% nos papéis preferenciais (PN) e, em contrapartida, possui um patrimônio líquido negativo em R$ 525,365 mil.

A segunda maior valorização ficou com a companhia de tecidos Schlosser, que obteve alta de 683% em suas ações preferenciais e opera com patrimônio líquido negativo em R$ 55,169 mil. Outras altas que chamaram atenção foram Docas Imbituba PN (+635%), Arthur Lange PN (+623%) e Aço Altona PN (+488%), todas com patrimônio líquido negativo.

Conhecer as condições

O economista da CMA, Luiz Rogé, destaca a importância de se conhecer em que condições houve essa valorização, observar todos os indicadores, além de apurar toda a vida financeira das empresas em questão antes de fazer um investimento. "É preciso ter certeza se o crescimento foi real", alerta o economista. Para ele, esse tipo de papel não é indicado para o investidor de bolsa comum por serem muito arriscados.

"Até existem pessoas com conhecimento de finanças que se arriscam a colocar seu dinheiro em ativos como esses. Em casos como o de uma empresa em concordata, por exemplo, o preço da ação normalmente já está muito baixo no momento em que ela entra com o pedido (de concordata)", diz Rogé, apontando que, nesse caso, seria razoável um investimento em ativos em recuperação, como é o caso da Parmalat ON, que valorizou 467% em 2006.

"O risco é limitado. Eu coloco isso (o preço da ação em baixa) que é o que eu posso perder, e tenho a possibilidade de que a empresa saia dessa situação para melhorar, o que poderá trazer grande retorno", conclui Rogé.

Valores "surrealistas"
Já o analista Carlos Alberto Rodrigues Leite, da Intra Corretora, afirma que essas valorizações são "surrealistas". Segundo Rodrigues Leite, as empresas em questão possuem ações de baixíssima liquidez, o que leva a um número muito reduzido de negócios ao longo do ano ser responsável pela alta variação calculada.

"Se, por exemplo, a última cotação era de R$ 0,10 e se fez um único registro com uma venda a R$ 1,20, e depois não teve mais movimento, essa será a valorização no ano da empresa. Não é palpável, é completamente incongruente, são empresas que realmente têm problemas", alerta o analista.

Surgimento de boatos
Em outros casos, como destacou Rodrigues Leite, podem surgir boatos que criam expectativas positivas e impulsionam as negociações de um determinado ativo na bolsa de valores. "Com a Docas Imbituba, por exemplo. Recentemente saíram rumores de que estaria com força e de que o porto havia fechado uma parte com a Vale e outra com os japoneses, o que daria perspectivas. Mas um dia (as ações) subiam e, no outro, caiam. Tudo ventania, simbólico, o que cria essa discrepância: empresas endividadas com esse perfil de forte valorização", afirma o analista, completando: "eu não recomendo nenhuma delas".

No pregão dessa quarta-feira, a Aço Altona registrou uma única negociação, que lhe rendeu a alta de 2,00%, enquanto a DHB não registrou qualquer operação durante o dia, mas acumula alta de 9,00% nos dez primeiros dias do ano. A Arthur Lange também não teve registro de negócios na bolsa paulista.

Mesmo com poucas negociações, essas empresas mantêm o registro de companhia aberta, pagando as taxas exigidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pela Bovespa para terem o direito de serem negociadas e permanecerem listadas no mercado.

Fonte: Monitor Mercantil
Link:
http://www.monitormercantil.com.br/mostra_noticia.asp?id2=38819&cat2=financeiro

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