quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Fermento para a bolsa

Os ventos devem continuar favoráveis para os emergentes e, em especial, para a América Latina. Estudo de uma das maiores corretoras do mundo, a Merrill Lynch estima que as aplicações dos fundos de investimentos e de pensão em ações da América Latina deverão mais do que dobrar até 2010 e atingir a marca de US$ 438,839 bilhões. Isso representa mais US$ 245,901 bilhões (ou R$ 516 bilhões) na região. Mas as boas notícias não param por aí: o Brasil deve ser o grande beneficiado dessas aplicações em bolsa. Para o investidor, isto pode ser uma oportunidade de acompanhar esse movimento e ganhar com a procura maior por determinadas ações. E reforça o otimismo com o mercado, que projeta para o fim deste ano um Índice Bovespa na casa dos 51 mil pontos.

Segundo o levantamento, do total de crescimento do mercado acionário da região, o Brasil responderá por 62,4%, ou US$ 153 bilhões. Pelas projeções da Merrill Lynch, desse valor, cerca de US$ 37 bilhões virão da troca dos investimentos em renda fixa dos fundos por ações. Outros US$ 35 bilhões serão decorrentes do aumento da base de investidores e US$ 80 bilhões de valorização dos papéis.

O otimismo aparece diante das taxas de juros menores e perspectivas de o país atingir o chamado grau de investimento - selo de baixo risco conferido pelas agências de classificação de crédito, o que permitirá aos grandes fundos de pensão internacionais investir mais pesadamente no Brasil. No fim do ano passado, os fundos de investimento e de pensão brasileiros aplicavam cerca de US$ 118,931 bilhões em ações. Isso quer dizer que as aplicações dos fundos em ações devem crescer 128% em quatro anos e somar US$ 272,247 bilhões.

Vale ressaltar que, para chegar a esses números, a Merrill Lynch projetou para os fundos de pensão um crescimento "modesto" na aplicação em ações, de 32% para 40% da carteira nos próximos quatro anos. O estudo abrange também os mercados de ações da Argentina, do Chile e do México.

Os fatores externos devem continuar favorecendo os investimentos na América Latina, diz Pedro Martins, estrategista de renda variável da Merrill Lynch. Para ele, o crescimento global deve continuar alto, com expansão de 4,6% para este ano, segundo estimativas da instituição. "As condições de liquidez devem ainda ser abundantes, o que favorece os emergentes", diz Martins. Além disso, os preços das commodities devem se manter em padrões elevados e as perspectivas para as bolsas ainda são positivas, em especial para a bolsa brasileira, avalia o executivo.

Na opinião de Martins, a bolsa brasileira é a mais atrativa da região. O indicador Preço/Lucro (P/L, que dá uma idéia do número de anos para que se tenha retorno com o investimento) do Ibovespa é de 10 anos. Só para se ter uma idéia, o principal indicador da Bolsa de Santiago, no Chile, país sempre lembrado como o exemplo que deu certo na região, tem um P/L médio de 19 vezes.

No portfólio recomendado pela Merrill Lynch, o setor de infra-estrutura é destaque. No segmento de energia, aparecem principalmente as geradoras, como Cemig e CPFL Energia. Companhias produtoras de commodities também devem se valorizar. Nesse caso, a corretora vê potencial nos papéis da Petrobras, da Vale do Rio Doce e da sua controladora Bradespar. Papel e celulose também aparece, com a recomendação de VCP. Já as empresas beneficiadas pelo aumento de crédito seriam Unibanco, TAM e Klabin (por conta do aumento de embalagens).

Países como Brasil, México e Chile arrumaram a casa e hoje mantêm a inflação baixa, viabilizando a queda dos juros, lembra Martins. Com isso, espera-se um crescimento econômico mais robusto, principalmente no caso brasileiro. Contribui para esse otimismo a perspectiva de realocação dos investidores, já que, com os juros em baixa, muitos deverão adicionar risco ao portfólio. Esse crescimento dos investidores locais interessados em aplicar em bolsa compensaria, inclusive, uma eventual saída dos estrangeiros, avalia Martins.

Nesse contexto, o cenário é bom para os fundos de ações e a categoria deve registrar forte expansão. Em dezembro de 2005, por exemplo, os fundos e carteiras administradas de ações representavam 12% do total investido no setor, lembra Martins. No fim do ano passado, esse percentual já havia subido para 15%. A Merrill Lynch estima que a parcela das aplicações de fundos mútuos em ações suba para 20% nos próximos quatro anos.

Esse é um movimento que já vem acontecendo no mercado. Otimista com o desempenho da bolsa brasileira e confiante de que ainda há oportunidades para ganhos, a UBS Pactual Asset Management iniciou o ano lançando dois fundos voltados para ações. A mudança representa um profunda transformação na estratégia de mercado da asset - resultante da compra do brasileiro Pactual pelo suíço UBS - no país, já que a instituição brasileira sempre foi conhecida pela sua atuação na renda fixa e em multimercados. Outro caso é a Claritas Investimentos. Com atuação focada em multimercados, a gestora lançou em janeiro seu primeiro fundo de ações.

Na opinião de Martins, a classificação "grau de investimento" do país deverá acontecer entre 2008 e 2009. "Mas esse é o ponto de chegada; antes, o país precisa conquistar a confiança dos investidores, o que já vem acontecendo", diz. Ele lembra que é cada vez maior o fluxo de recursos de fundos dedicados à América Latina, carteiras de emergentes ou mesmo de fundos BRICs (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China).

O Brasil lidera em volume de recursos aplicados em fundos mútuos e de pensão na América Latina, com mais de US$ 600 bilhões. Isso representa 63% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e 110% da capitalização (valor de mercado) da bolsa. No ano passado, o Brasil ocupava a 11ª colocação no ranking global de fundos de investimentos, com patrimônio de US$ 360,7 bilhões, à frente de economias desenvolvidas como Espanha, Alemanha e Suécia.

Fonte: Jornal Valor (21/02/07).

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