sábado, 24 de fevereiro de 2007

DICAS DA EXAME PARA 2007

Num ano que promete recordes de movimentações, as empresas de consumo e de infraestrutura despontam como as grandes estrelas

O ano começou particularmente auspicioso para quem investe na bolsa de valores. Antes de paralisar suas operações para o feriado do Carnaval, a Bovespa havia batido dois recordes de movimentação, atingindo os níveis mais altos da história. Num único dia, três marcas foram alcançadas maior volume financeiro, maior número de negócios realizados e maior pontuação. Subidas radicais costumam provocar certo temor em investidores mais ressabiados. Mas, segundo 30 dos mais respeitados especialistas em mercado financeiro consultados por EXAME, 2007 prosseguirá sendo o ano da bolsa. A previsão média dos analistas é que o Índice Bovespa, principal termômetro do mercado acionário brasileiro, chegará a 55 000 pontos em dezembro, alta de 20% em relação ao fechamento de 15 de fevereiro. Se a expectativa se confirmar, este será o quinto ano consecutivo de valorização.

Como sempre, esse não será um movimento uniforme e é exatamente aí que moram o risco e a beleza desse tipo de investimento. Certos setores são sempre mais beneficiados que outros de acordo com a dinâmica da economia brasileira e internacional. Para os oráculos do mercado financeiro, a maré econômica claramente favorecerá empresas de dois setores infra-estrutura e consumo. A aposta na infra-estrutura está baseada na confiança de que os investimentos nessa área vão de fato aumentar. Parte do impulso virá do governo, que recentemente anunciou o PAC, programa com uma longa lista de obras a ser erguidas. Os analistas do mercado também sentem um crescente apetite do setor privado para retirar projetos do papel. Isso beneficia as ações de companhias de energia elétrica, logística e construção civil, entre outras.

A indicação de empresas associadas ao setor de consumo deve-se à previsão de crescimento econômico, ainda que moderado, e de aumento da renda da população, o que terá efeito direto nas caixas registradoras do varejo. "Nossas taxas de crescimento podem ser decepcionantes quando comparadas às de outros países emergentes, mas são as melhores em anos", diz Mauro Cunha, gestor da Franklin Templeton, uma das maiores empresas mundiais de gestão de investimentos. Uma economia mais aquecida e com juros em queda favorece uma maior rentabilidade das empresas. Esse cenário foi recentemente desenhado numa pesquisa do banco Merrill Lynch, que prevê aumento de 23% nos lucros das companhias brasileiras de capital aberto neste ano. "A bolsa vai refletir a ótima situação das empresas", diz Pedro Martins, chefe de análise de ações do Merrill Lynch.

ALÉM DE ESCOLHER BEM a companhia e o setor, o investidor precisa manter-se atento ao preço. Nem todas as empresas de construção civil, por exemplo, são boas opções de compra. As ações da maior parte das construtoras que abriram capital recentemente subiram demais nos últimos meses, o que reduz as chances de novas valorizações. Em vez de comprar esses papéis, os analistas recomendam aplicar nas empresas que fornecem produtos à construção civil, como a Eternit e a Gerdau. A exceção é a construtora Klabin Segall, que vem ampliando sua atuação no segmento de baixa renda, um dos mais promissores do mercado, e cujo papel está barato quando comparado aos de suas concorrentes.

Fora dos setores mais quentes, duas empresas se destacam na lista de recomenda ções dos analistas. São elas a processadora de cartões CSU CardSystem e a Vale do Rio Doce. Sua inclusão entre as apostas mais promissoras deve-se a características próprias de suas operações. Recentemente elevada à posição de segunda maior mineradora do mundo graças à aquisição da canadense Inco, a Vale é uma das estrelas dos pregões brasileiros. Nos últimos dois anos, a cotação de seus papéis dobrou -- e a perspectiva é de novas altas. Com a Inco, a Vale diversifica seu portfólio de produtos e atuação geográfica, o que deve aumentar sua rentabilidade. A aposta na CSU CardSystem, por outro lado, tem uma explicação eminentemente financeira. Desde que abriu o capital, em abril do ano passado, a CSU tem apresentado desempenho medíocre na bolsa. Nesse período, suas ações caíram 24%. "Como o preço do IPO foi muito elevado, a empresa ficou cara", diz Daniel Gorayeb, analista da corretora Spinelli. O cenário para 2007 é mais otimista. A CSU venceu a maior licitação do mercado brasileiro em seu segmento e passou a administrar os 3 milhões de cartões da Caixa Econômica Federal. Especialistas prevêem que o acordo eleve seu faturamento e sua rentabilidade.

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