sábado, 23 de dezembro de 2006

Psicologia pode ajudar as finanças

Já tive a oportunidade de comentar sobre o "must" de finanças atualmente: Finanças Comportamentais.

Aqui, abaixo, reproduzo uma reportagem adicional sobre o assunto.


Vale a pena ver de novo os links abaixo, bem como ler na íntegra a matéria.


http://bussoladefinancas.blogspot.com/2006/12/perfil-de-investidor-ou-de-investimento.html

http://bussoladefinancas.blogspot.com/2006/11/operando-aes-sem-psicologia-das.html

Quem cuida das próprias finanças deve estar começando a se familiarizar com dados da psicologia econômica, finanças comportamentais e até da neuroeconomia. Todas essas disciplinas pesquisam a influência de fatores psicológicos na forma como tomamos decisões. Quando se trata de ganhar – ou, o que é mais doloroso, perder – dinheiro, interessa conhecer o máximo possível a respeito de como funcionamos diante dessas perspectivas.

Grande parte destes estudos aborda as limitações cognitivas, isto é, aquelas que podem atrapalhar o processamento mental de informações. Herbert Simon (Nobel de Economia, 1978) defendia que, ao contrário do que supõe a economia, nossa racionalidade é limitada – ou seja, não tendo condições para obter ou examinar todos os dados necessários a uma decisão "ótima", simplificamos nosso caminho e trocamos o "ótimo" pelo "satisfatório". Daniel Kahneman (psicólogo econômico, Nobel de Economia, 2002), verificou, em situações de laboratório, como as pessoas se posicionam frente a problemas de escolha parecidos com os da vida real. Ele identificou uma série de "regras de bolso", ou atalhos mentais, que adotamos para facilitar nossas percepções e avaliações. Essas regras produzem vieses que podem nos conduzir a equívocos e prejuízos financeiros. Contratar um empréstimo contando com ganhos futuros superestimados, que não se realizam e deixam um rastro de juros altos e inadimplência, é apenas um exemplo dessa dinâmica.

Mas seria possível aprender com experiências malsucedidas e evitar perdas? Sim, desde que seja possível examinar a situação de forma realista e isenta para saber o que aconteceu de fato. E é aí que mora o perigo: tendemos a considerar como verdadeiro só aquilo que nos agrada – mesmo que não seja real – e procuramos ignorar, sistematicamente, tudo que vai contra nossos desejos e expectativas. Tentamos escapar do que nos frustra.

No artigo Made sense and remembered sense: sensemaking through abduction (Journal of Economic Psychology, dez., 2000), Lundberg estudou processos de raciocínio de profissionais do mercado financeiro – gente que é especialista, portanto, em tomar decisões econômicas, com conhecimento e quilometragem no assunto. Uma de suas conclusões foi que os operadores apresentavam importantes diferenças no sentido que atribuíam aos seus raciocínios posteriormente. Ou seja, na hora de escolher, procuravam entender a situação da melhor forma possível, com os dados de que dispunham. Mas, quando indagados, depois de conhecer os resultados de suas decisões, tendiam a alterar suas lembranças, acreditando que tinham acertado. Se tivessem dado um fora, "douravam a pílula", mesmo sem se dar conta, e podiam não admitir que o equívoco tivesse acontecido.

Para aprender com a experiência, é preciso seguir caminho inverso. Ou seja, primeiro, deve-se olhar o que funcionou e, especialmente, o que não deu certo. Depois, com alguma disciplina, acompanhar a seqüência dos acontecimentos no longo prazo, a fim de reunir mais dados para comparação e análise. Por fim, alargar os horizontes para detectar novos elementos que podem trazer oportunidade ou risco – sempre procurando administrar os sentimentos chatos que acompanham as frustrações. O que se ganha com isso? A chance de acertar mais no presente e no futuro.

*Vera Rita de Mello Ferreira é psicanalista, consultora na área psico-econômica, professora do curso "Psicanálise e Psicologia Econômica" e representante no Brasil da International Association for Research in Economic Psychology (IAREP). Email: verarita@verarita.psc.br

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