terça-feira, 17 de outubro de 2006

O ano das ofertas públicas (IPO´s)

Impressionante mesmo.. tem de tudo... tá virando uma coqueluche.. é hora de começar a separar com mais criterio o joio do trigo...

O ano das ofertas
VALOR ECONOMICO
Por Adriana Cotias16/10/2006
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O fim das férias de verão no Hemisfério Norte, a melhora do cenário internacional e a recuperação da Bovespa precipitaram uma avalanche de ofertas públicas, antecipando um quarto trimestre vigoroso para o mercado de capitais. Desde que a Medial abriu a temporada, em 21 de setembro, já são mais de R$ 6 bilhões em papéis (considerando-se as ofertas já registradas na Comissão de Valores Mobiliários e as que estão em andamento, com reservas até dia 24 deste mês), a maior parte de empresas novatas. Caso da Santos Brasil, terminal de contêineres do Porto de Santos, que estreou na sexta-feira, com alta de quase 9%, depois de ter saído no topo da faixa indicativa, a R$ 23.
Entre emissões e vendas secundárias - de ações dos sócios -, as ofertas deste ano superam os R$ 27 bilhões, 60% acima de tudo que foi colocado em 2005. Esse já é de longe o melhor resultado da década, um indício de que o mercado brasileiro está em pleno ciclo de expansão. É ainda pouco, considerando que esse volume representa 12 pregões da Bovespa e cerca de 2% do PIB brasileiro, calcula o professor do Ibmec-RJ, Fábio Fonseca.
De qualquer forma, com mais alternativas à frente, o investidor deve evitar se entusiasmar com promessas miraculosas de crescimento em setores que praticamente não existiam na bolsa. O índice preço/lucro - P/L, a relação entre a cotação e o resultado, que dá uma idéia do prazo de retorno do investimento - continua alto, em 20 anos na média, o dobro do mercado brasileiro. Santos Brasil foi lançada com um P/L calculado em 35 anos.
Saúde, energia, portos, alimentos e construção civil compõem o mix da safra atual. A diversidade de lançamentos é tamanha, que em alguns casos, fica difícil até avaliar as ações, conta o chefe da área de Renda Variável da Fundação Cesp, Paulo de Sá Pereira. Como há papéis de empresas que não têm correlatas no mercado, foi preciso construir cenários para chegar a algum valor para as estreantes.
"O que vimos foram várias operações secundárias", alerta Pereira. "É preciso analisar qual o comprometimento das empresas com os minoritários, saber qual a motivação da oferta, se é para aproveitar o momento de ganho para o controlador, o que será feito com o dinheiro, se vai abater dívidas e quanto irá para investimentos."
A fabricante de alimentos M. Dias Branco, por exemplo, que terá o preço da sua oferta definido hoje, pode levantar mais de R$ 390 milhões numa operação totalmente secundária. Os recursos vão para o bolso do Dibra Fundo de Investimento em Participações, que está reduzindo a sua fatia no negócio, de 84,25% para 64%.
A Santos Brasil captou R$ 843,4 milhões para abater dívidas e deixar o caixa livre para investimentos. A Brascan Residential viu no frenesi com o setor imobiliário a deixa para trilhar o caminho do mercado. A oferta prevê papéis novos e dos sócios e a fatia de R$ 650 milhões que representa aumento de capital será usada para amortizar R$ 460 milhões em dívidas.
Já o desempenho da Klabin Segall no primeiro dia de negociação na Bovespa, no dia 9, não foi muito encorajador. As ações estrearam num pregão de baixa e caíram 4,07%, perdendo mais um pouco na sexta. Uma amostra de que a intenção de lucrar ao vender ações adquiridas em ofertas públicas logo na saída (o famoso "flipar") já não é mais garantia de ganho, como se viu num passado recente, observa Fonseca, do IBMEC-RJ.
"Curto ou longo prazo, é preciso ter cuidado", diz ele. "A percepção do mercado é de que o setor imobiliário no Brasil repetirá o que se viu nos Estados Unidos, mas o segmento é de maturação longa e tem aí um componente de risco grande porque num dado momento a economia pode reverter." Ele reconhece, porém, que o ambiente macroeconômico é hoje favorável à expansão da construção civil.
Como há indicação de que o governo continuará baixando juros, quem quer que vença a eleição presidencial, os papéis do setor imobiliário têm tudo para capitalizar esse movimento, defende Alexandre Espírito Santo, sócio da Avanti Gestão de Recursos e chefe do Departamento de Finanças da ESPM-RJ. Apesar de ter se interessado por Klabin Segall, a gestora optou por não assumir riscos num momento que ainda considera indefinido para os mercados. "Excesso de oferta é bom num mercado maduro, de movimento contínuo, mas o que vimos foi uma parada técnica de dois meses e agora são empresas novas chegando."
Os preços das ações em bolsa atingiram níveis atraentes a ponto de os próprios donos procurarem valorizar seus ativos via mercado, acrescenta Rodrigo Bresser Pereira, sócio da Bresser Asset Management. Para ele, os estrangeiros têm tido um papel fundamental nesse cenário. Embora o saldo de capital externo no ano na Bovespa esteja negativo em R$ 1,8 bilhão, esses investidores continuam firmes nas ofertas públicas, levando na média mais de 65% de tudo que foi vendido. Na Medial, ficaram com 75%.
E a lista de opções de investimento vai aumentar com as ofertas da holding Terna Participações - Rette Elettrica Nazionale Societá per Azioni - e da distribuidora de medicamentos Profarma. As reservas começam hoje e as operações podem movimentar cerca de R$ 750 milhões. Também termina hoje o prazo para participar da oferta da Perdigão, de R$ 800 milhões.
A empresa, depois de driblar a oferta hostil da Sadia, faz aumento de capital com a venda de 32 milhões de ações ordinárias, sendo de 10% a 20% para o varejo. A expectativa é de que o dinheiro seja usado na diversificação de investimentos, a exemplo da recente aquisição da Batávia.
Os melhores desempenhos pós-oferta no ano são de TAM PN, que subiu 71,5% desde março, e, de Gafisa, que já acumula valorização de 58% desde junho. O maior desastre foi CSU ON, que perdeu 36,1% do fim de abril para cá.

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