sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Para alívio de muitos: Janeiro/08 acabou!

Prezados,


Sem dúvida, janeiro de 2008 ficará marcado na história como um mês excepcional em termos de volatilidade nos mercados financeiros mundiais.


Uma sucessão de boatos, especulações, grandes perdas corporativas e, até mesmo fraudes, provocaram uma onda global de aversão a risco por parte dos investidores. Naturalmente o desempenho das principais bolsas de valores no mês foi decepcionante.


Em contrapartida, intensificou-se o movimento chamado “fly to quality”, que representa a migração de ativos de maior risco para ativos de menos arriscados (em especial o OURO). Aos que não costumam acompanhar a cotação do ouro, saibam que ele bateu recordes, com valorização de quase 12% no mês.


Esse movimento foi resultado, primeiramente, dos sucessivos anúncios de perdas por parte de grandes bancos americanos e, também, europeus. Os montantes destas perdas, em alguns casos, foram tão relevantes que obrigaram muitas destas instituições a procurar novos investidores, como forma de obter algum “aporte emergencial” de capital.


Para adicionar mais volatilidade ao período, um grande banco francês (Société Genéralé) anunciou uma perda histórica de € 5 bilhões, aparentemente, provocada por apenas um único trader que, segundo as últimas informações, teria fraudado os sistemas de controle e segurança do banco.


Assim, com o mercado financeiro passando por um momento de fortes turbulências, as oportunidades para novas captações, principalmente de países emergentes, ficaram praticamente interrompidas.


Em outras palavras, diversas companhias de capital aberto no Brasil que pretendiam realizar operações tanto em equity (primárias e secundárias) quanto em dívida, decidiram postergá-las ou, até mesmo, cancelá-las, tendo em vista as condições adversas no mercado de capitais.


Contudo, os mercados começaram a se recuperar ao final do mês, em resposta às medidas expansionistas adotadas pelo FED (Banco Central dos Estados Unidos), visando o combate à recessão.


Entretanto, ainda seria prematuro afirmar que a tempestade se dissipou e que a volatilidade deverá diminuir ao longo dos próximos meses.


Afinal, qual é o tamanho da crise nos EUA?

Tendo em vista as divulgações dos últimos indicadores econômicos dos EUA, pode-se dizer que a luz amarela está acesa.


Ou seja, a recessão que parecia distante ao final de 2007, começa a dar sinais de preocupação.


Atualmente, o cenário de referência é de desaquecimento da economia americana, contudo, talvez sem que esta entre, tecnicamente, em recessão.


Todavia, alguns indicadores econômicos nos EUA já começaram a alertar os investidores.


Definitivamente, a bolha no mercado imobiliário americano estourou. Os preços dos imóveis novos e usados estão em queda acentuada, a inadimplência está em alta, devido ao efeito negativo da progressão dos juros nos financiamentos imobiliários, além do elevado comprometimento das instituições financeiras que viabilizavam crédito para este setor, principalmente com créditos de maior risco (subprime).


Esta conjunção de fatores já está repercutindo negativamente na economia norte-americana, tanto que seu PIB no 4T07 cresceu à taxa de apenas 0,6%, contra crescimento de 4,9% no trimestre anterior. Basicamente, o componente imobiliário do PIB (chamado investimento residencial fixo) despencou 23,9% no quarto trimestre de 2007.


Assim, com forte exposição aos títulos do mercado imobiliário, seja de forma direta ou indireta (participação em fundos com lastro parcial em títulos do mercado subprime), os bancos começaram a reconhecer suas perdas. Até o momento, sabe-se que as perdas dos bancos internacionais, contabilizadas no balanço de 2007, superam a faixa de US$ 100 bilhões, sendo que muitos deles recorreram a aportes de capital feitos por Fundos Soberanos Asiáticos.


Tais aportes já atingiram a casa de US$ 20 bilhões e poderão ser uma tendência nos próximos meses, caso as perdas das instituições financeiras perdurem.


Segundo o Presidente do FED, Ben Bernanke, estas perdas potenciais relacionadas aos empréstimos no mercado subprime podem atingir múltiplos de US$ 100 bilhões.


E O FED COM ISSO?

Como medida paliativa à esta crise, o FED adotou uma postura mais contundente e, em reunião extraordinária, reduziu a taxa básica de juros no País em 0,75%, além de reduzir em mais 0,75 % a taxa de redesconto.


Na semana seguinte, em sua reunião periódica, optou por nova redução de 0,50% nos juros e no redesconto, fugindo de seu conservadorismo habitual.


Porém, naturalmente, tais medidas só terão impacto na economia a partir do quarto trimestre deste ano, considerando-se o intervalo de tempo que existe entre a aplicação da política monetária e seu real efeito sobre a economia (12 meses, em média, nos EUA).


SINAIS EM DISCORDÂNCIA NA EUROPA!

Mesmo com a redução feito pelo FED, o presidente do BCE deixou claro que seu único foco seria o controle da inflação.


Neste sentido, o BCE, em sua última reunião, optou pela manutenção dos juros. Assim, com o aumento do diferencial de juros entre os EUA e o resto do mundo, e a economia americana perdendo força, é provável que a moeda norte-americana continue em sua trajetória de perda de valor frente às demais moedas.


E O BUSH???

Segundo pacote de ajuda, anunciado pelo Presidente Bush, haverá uma injeção direta de recursos na economia de aproximadamente US$ 150 bilhões, equivalentes a cerca de 1% do PIB do País.


Este aporte de recursos será feito, principalmente, sob a forma de devoluções de impostos, da seguinte maneira: os indivíduos solteiros receberão US$ 600, enquanto que os casais receberão US$ 1.200, além de US$ 300 adicionais por filho.


Todavia, o reembolso só será enviado para pessoas que tenham renda anual maior que US$ 3 mil e até US$ 75 mil por ano ou casais com renda até US$ 150 mil anuais. Além disso, os trabalhadores que não são obrigados a fazer declaração de renda, mas que recebam menos de US$ 3 mil anuais, receberão US$ 300. Por fim, o Governo vai aumentar o limite de dedução que pequenas e grandes companhias podem fazer dos valores pagos por bens de capital adquiridos em 2008.


Em outras palavras, as autoridades norte-americanas abriram mão de uma maior estabilidade dos indicadores macroeconômicos, em prol do crescimento econômico.

E o Brasil? Será que estamos “blindados” à crise?


Neste momento, a pergunta que todos no Brasil fazem está relacionada com a possibilidade do país “escapar” da possível recessão americana, com poucas ou nenhuma avaria significativa.


Muitos defendem a tese de que o País seria um “porto seguro” para os investidores no momento de maior instabilidade da economia mundial, dada a maior solidez de seus indicadores econômicos.

Em parte, a afirmação acima está correta. Ou seja, o País, sem dúvida, está bem menos vulnerável às turbulências internacionais, em comparação ao ocorrido nas crises do final dos anos 90. Fatores como a não exposição cambial da dívida pública; o elevado nível de reservas cambiais; o consistente crescimento econômico do País nos últimos cinco anos; a melhora na avaliação de rating do país, que está a um passo do chamado “investment grade”, reforçam esta afirmação.


Além disso, com a elevação no diferencial de juros entre o Brasil e os EUA, é possível que o fluxo de capitais para o Brasil não sofra reduções abruptas ao longo do ano.


Porém, mesmo gozando de uma condição econômica bem mais favorável, dizer que o país está imune à crise nos EUA seria, no mínimo, utópico. Por exemplo, atualmente os EUA representam pouco mais de 15% de nossas exportações totais, o que não parece ser um número preocupante. Entretanto, uma drástica redução na demanda norte-americana fatalmente provocaria realização em massa nos preços das commodities em geral (agrícolas, metálicas, petróleo, etc).


Neste cenário, o saldo da balança comercial brasileira seria fortemente impactado, tendo em vista o relevante peso de commodities nas exportações brasileiras.


Além disso, nota-se que, nos últimos anos o Brasil foi um dos países que mais se beneficiou do forte desempenho econômico global e, também, do excesso de liquidez, mesmo sendo o País com crescimento mais modesto, dentro aqueles que compõem o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).


Contudo, um eventual desaquecimento, ou até mesmo uma recessão americana colocariam restrições à política econômica doméstica, algo que o atual Governo tem pouca ou nenhuma experiência.


Até o momento, a economia local continua aquecida. Os últimos dados de emprego, produção e inflação ratificam este cenário. Adicionalmente, o crédito bancário, que impulsionou as vendas de bens duráveis no Brasil em 2007 (imóveis e veículos, principalmente) cresceu 27,3% em 2007, passando a representar a histórica marca de 34,7% do PIB.


Todavia, as perspectivas para este ano são de um mercado de crédito um pouco menos aquecido, em função da crise internacional, da expectativa de alta na taxa Selic e do aumento das alíquotas de Impostos sobre Operações Financeiras (IOF) sobre os empréstimos bancários.


Assim, é adequado afirmar que o País não é mais tão vulnerável às crises externas, como ocorria na década passada.


Contudo, seria imprudente acreditar que estamos literalmente “blindados” à esta crise global.


Os principais fatores que impulsionaram a economia local nos últimos anos (crédito e preço de commodities) serão, também, os principais indicadores a serem monitorados em 2008, para se determinar o rumo da economia brasileira.


Nota-se, claramente, que ambos os indicadores (crédito e preços de commodities) estão diretamente ligados à conjuntura internacional, haja vista que uma piora na liquidez do sistema financeiro internacional poderá restringir o crédito no Brasil, além dos preços das commodities, que estão relacionados integralmente à evolução do PIB nas principais economias do globo.


Então: Hora de comprar ou hora de vender?

Em termos técnicos, é fato que os momentos de maiores quedas nos mercados proporcionam grandes oportunidades aos investidores, tendo em vista que boa parte desta realização é motivada pelo chamado “risco sistêmico”.

Ou seja, quando os indicadores econômicos mostram resultados bastante distintos ou até mesmo contraditórios, há uma grande dificuldade por parte do mercado em realizar uma avaliação concreta da situação. Neste ponto, os investidores começam a ficar mais temerosos quanto ao futuro da economia e, assim, optam pela realização em carteira dos ativos de maior risco (ativos de renda variável). Neste sentido, os fundamentos microeconômicos (fundamentos dos setores e das empresas) figuram em segundo plano e, assim, os mercados de renda variável acabam sofrendo perdas consecutivas. Vale salientar que nestes períodos de realização, o volume médio negociado no mercado tende a ficar “inflado”, haja vista que grandes investidores reduzem de forma substancial a proporção dos ativos de renda variável em seu portfólio.

No entanto, após esta “onda de aversão a risco”, o mercado tende a se estabilizar em um novo patamar. A partir daí, com um cenário econômico mais claro, os investidores voltam suas atenções aos fundamentos das empresas.

No Brasil, a economia continua bastante aquecida e a inflação mantém-se pressionada, sem dar sinais de refresco, o que deverá levar o BACEN a adotar uma política monetária mais rígi dia.

Segundo as últimas previsões divulgadas pelo FMI, o PIB mundial deverá crescer menos este ano (cerca de 4,1%), devido à forte desaceleração do PIB americano, que não deverá crescer acima de 1,5%.

Contudo, o Fundo é um pouco mais otimista em relação às economias de países emergentes, com destaque para a América Latina que, segundo sua previsão, deverá crescer em torno de 4,3% em 2008.

A princípio, este cenário favorável ao Brasil, porém, ainda é cedo para contar com o fim do nervosismo e da volatilidade nos mercados mundiais, mesmo porque não se sabe ao certo as dimensões das perdas do sistema financeiro internacional e, conseqüentemente, qual será seu real impacto na economia.

Sob este cenário ainda turbulento, para aqueles investidores com foco em longo prazo, e que possuam relativa tolerância às volatilidades pontuais, o atual momento pode representar uma oportunidade de entrada em um mercado acionário emergente.

E QUE VENHA O CARNAVAL!!!!

BON$ INVE$TIMENTO$!!!

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