terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

....CRISES CONTEMPORÂNEAS....

Prezados,

Investir em ações está longe de ser uma ciência, de fato, exata. As previsões trazem muito do que se aprendeu com os dados passados e estarão aproximadamente certas na medida em que o futuro repetir ou se aproximar desse passado (o que não obrigatoriamente ocorre!). Pois bem, quando o futuro apresenta-se com inúmeras variáveis incertas a tendência é que as previsões apresentem-se disparatadas e com grande margem de erro.

Foi assim quando a VALE comprou a mineradora canadense INCO. No primeiro balanço consolidado, os analistas chegaram a projetar o lucro trimestral com até 30% de erro, no segundo balanço já houve muitos acertando com margem inferior a 5%.

Não é diferente do que está ocorrendo agora. Há tanto especulações otimistas, dizendo que o S&P 500 vai subir 30% até o final do ano, como catastróficas, sugerindo o risco de uma quebradeira nos bancos grandes dos EUA.

O certo é que, independente do futuro imediato, as coisas tendem a se ajustar, mesmo que seja em patamares bem mais modestos do que os de hoje. Cedo ou tarde as turbulências reduzem seus efeitos e os analistas voltam a prever com uma margem de erro menor.

Algumas características da recessão de 2001 nos EUA
Os parâmetros mais utilizados para se tentar prever uma recessão são: o consumo (consumer expenditures), mercado imobiliário (investimento imobiliário), balança comercial e investimentos.

Na recessão de 2001 o consumo das famílias acabou não se reduzindo substancialmente, pois a queda de juros, a partir do final de 2000, foi muito acentuada e permitiu a manutenção do crédito. A taxa prime, cobrada pelos bancos, saiu de 9,5% para 4% em menos de 3 anos. Isso impulsionou significativamente o consumo e também ajudou a chegarmos à crise de crédito de hoje, pois os juros mais que dobraram a partir junho de 2004 até julho de 2006, quando já havia muitos americanos endividados.

Por outro lado, a queda expressiva no mercado imobiliário e, principalmente, os projeções equivocadas a respeito dessa variável, explicam bem os efeitos da recessão nos trimestres seguintes.

Nos dois primeiros trimestres de 2000 havia previsão de forte expansão no mercado imobiliário norteamericano, o que não ocorreu. Os analistas ajustaram suas projeções indicando queda no agregado em todos os trimestre seguintes, até o primeiro de 2002. Ao contrário do previsto, o índice que mede o crescimento do investimento no mercado imobiliário, RFI (residential fixed investiment), cresceu em todos os trimestres de 2001, exceto no último. O erro acumulado nas previsões chegou a 36,6%, para baixo, do que realmente ocorreu.

As exportações dos EUA caíram aproximadamente 10% durante a recessão de 2001, puxadas por dois fatores: a queda generalizada na produção mundial em 2001 e o dólar forte. Muito desse dólar forte se deveu aos superávits deixados pelo governo Clinton.

No governo Bush, os gastos com o combate ao terrorismo e a política de redução de impostos acabaram por gerar um déficit fiscal muito grande, que aliado ao déficit comercial também elevado, fizeram os EUA emitir títulos e inundar o planeta com dólares para financiar esses déficits. Essa política foi responsável, em grande parte, para elevada liquidez internacional experimentada nesses últimos anos.


Como a bolsa de valores americana se comportou durante a recessão de 2001?
Exatamente como vemos hoje, os profissionais de investimento e os investidores em geral procuram se antecipar aos movimentos de queda nos lucros ou redução no crescimento da economia, impondo perdas aos papéis das companhias afetadas.

Notoriamente os setores mais afetados da economia americana nessa crise atual são aqueles
relacionados diretamente ao crédito, primordialmente o crédito imobiliário. O setor bancário chegou a perder 40% de seu valor de mercado na bolsa americana e algumas instituições de financiamento imobiliário chegaram a perder 90% de seu valor de mercado.

A atuação dos investidores é simples. Modificando-se bruscamente a perspectiva de lucros futuros, aumenta o risco de falência ou crise generalizada logo, os investidores acabam por vender as ações, reduzindo sua exposição ao setor em crise.

A recessão durou relativamente pouco, oficialmente de março de 2001 a novembro daquele mesmo ano. No início de 2002 já havia se retomado o crescimento, mas o processo de entendimento é mais moroso.

Levou quase um ano para que a maioria dos analistas concordasse que os EUA estavam em recessão e mais um ano para concordarem que ela havia acabado. Em momentos de incerteza as coisas funcionam assim mesmo, ninguém se arrisca muito nas análises.

A queda da bolsa americana foi muito forte, de um pico superior a 1.500 pontos (S&P 500), em meados de 2000, para menos de 800 pontos entre o final de 2002 e início de 2003. Três anos seguidos de queda fez com que o índice perdesse mais de 40% de seu valor.

Um ponto intessante a ressaltar é que a pontuação atual do S&P 500 é quase 15% inferior do que o seu pico, atingido quase 8 anos atrás.

Como a economia americana cresceu bastante nesses anos posteriores a 2001, intui-se que os lucros das empresas também cresceram, em relação aos patamares anteriores a 2001. Porém, o valor de mercado das companhias, ao menos das constantes no índice S&P 500, não acompanharam esse crescimento do lucro, o que nos faz concluir que os múltiplos P/L (preço da ação dividido pelo lucro por ação) devem ter se reduzido nesses últimos anos.

E hoje? Como estamos?
Hoje, as ações americanas apresentam múltiplos P/L inferiores à metade do que se verificava no biênio 1999-2000, período pré-recessão. Essa verificação pode indicar dois fatores: ou se espera que o lucro vá cair bastante nos próximos anos ou as ações estão realmente mais baratas do que estavam na véspera da recessão de 2001.

Outro fator é o retorno com dividendos. No ano de 2000 as ações estavam em seu pico de valor fazendo com que o retorno com dividendos (dividendo/preço) fosse baixo, próximo a 1% ao ano. Com a queda nos preços (numerador) e o crescimento dos lucros, com a retomada do crescimento, e conseqüentemente dos dividendos, (denominador), o retorno com dividendos está próximo a 2,2% ao ano. Num país onde a taxa de juros de curto prazo está próxima a 2% ao ano, as ações podem ser uma boa opção à renda fixa.

É mais um indicador de que, talvez, as ações estejam mesmo mais baratas do que na véspera da crise de 2001. É comum ver analistas internacionais dizendo que há ações baratas nos EUA, que na comparação com a renda fixa, os retornos oferecidos por algumas empresas nos EUA podem ser de 2 a 3 vezes mais atraentes.

Vale dizer que o biênio 2001-2002 foi especialmente complicado para a economia mundial. Uma forte desaceleração global, recessão sem precedentes em países da América do Sul, crescente medo de atentados terroristas e, para o Brasil, o racionamento de energia elétrica, impuseram um grande pessimismo às bolsas, que iniciaram sua recuperação somente a partir de 2003.

Porém, o crescimento subseqüente dos principais índices das bolsas americanas seguiu um padrão, digamos, mais fundamentalista, pois as cotações cresceram, mas, ao mesmo tempo, os múltiplos P/L caíram e o retorno com dividendos dobrou, indicando que os lucros e dividendos apresentaram recuperação superior à das cotações.

Essa leitura poderia indicar que o mercado de ações americano não tem mais muito espaço para ajustes, ou seja, já está bastante depreciado, 15% menos do que em 2000. Entretanto, os analistas ainda precisam ver o “fundo do poço”, para que possam se posicionar mais firmemente sobre as perspectivas de futuro e, principalmente, sobre oscilações de curto prazo.

Ninguém consegue afirmar, ainda, qual será o nível de prejuízo total dos bancos com a crise imobiliária americana. Enquanto essa dúvida perdurar, a volatilidade deve se manter presente nas bolsas mundiais, e como já comentado, gerar boas oportunidades de compra aos investidores dispostos a investir neste momento.

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