O setor de construção sofre com a crise. Mas qual a lógica por detrás disso?
No primeiro semestre, com o agravamento da crise do crédito no exterior, o mercado passou a restringir suas recomendações a companhias mais consolidadas, com presença em diversas regiões do país e um representativo banco de terrenos. Cyrela, Gafisa, Rossi, PDG e MRV pareciam ser então as aplicações mais atrativas.
Recentemente, no entanto, o mercado percebeu que o início do ciclo de aumento dos juros impediria o Brasil de experimentar o tão aguardado boom imobiliário já a partir deste ano. Com a quebradeira de bancos nos Estados Unidos e Europa e o encarecimento do crédito no Brasil, um novo fator surgiu para tornar ainda mais seleto o grupo de bons investimentos: o endividamento. Empresa mais alavancada entre essas cinco incorporadoras, a Rossi passou a ser um péssimo investimento. Suas ações acumulam queda de 76% neste ano, a maior baixa entre todos os papéis que compõem o Ibovespa (principal índice da bolsa paulista).
O desempenho das ações do setor de construção
Empresa | Variação |
Inpar | -93,6 |
Abyara | -89,8 |
Tenda | -86,8 |
Even | -76,2 |
Rossi Residencial | -76,0 |
Trisul | -72,0 |
Eztec | -69,7 |
Helbor | -69,4 |
Klabin Segall | -65,0 |
Lopes | -61,4 |
Camargo Corrêa | -61,2 |
Brascan | -59,1 |
Tecnisa | -58,6 |
Company | -58,5 |
CR2 | -52,2 |
MRV | -47,4 |
PDG Realty | -45,9 |
JHSF | -41,4 |
Agra | -39,8 |
Rodobens | -38,0 |
CCP | -33,0 |
Gafisa | -26,9 |
Cyrela | -19,3 |
Fonte: Economática | |
* No ano, até 29/09/2008 |
O QUE MUDOU?? RESPOSTA: O CREDITO!!!!!!!!!!
O crédito tornou-se um diferencial porque o aumento das despesas com o pagamento de juros deve ter impacto direto na margem de lucro das incorporadoras. Nesta semana, a Rossi anunciou que faria uma emissão de 40 milhões de reais em debêntures pagando uma taxa equivalente ao CDI mais 3,5% ao ano – acima, portanto, dos juros pagos na emissão anterior. Além disso, os bancos também estão sendo mais criteriosos na liberação de financiamentos para os consumidores - e o reflexo já poderá ser sentido nas vendas de imóveis em setembro.
Esse cenário mais adverso ajuda também a explicar a rápida venda da Tenda para a Gafisa e da Company para a Brascan – em operações em que os controladores não receberam prêmios para deixar o comando dos negócios. O movimento de fusões e aquisições, entretanto, não é sinônimo de alto risco de falência no setor. As empresas do setor admitem uma redução na velocidade de vendas em setembro, mas ainda têm três caminhos para se capitalizar. A primeira delas é pela diminuição de lançamentos, que reduz a necessidade de crédito. A segunda é com a venda de terrenos e outros ativos. Por último, também é possível realizar aumentos de capital com a busca de novos parceiros.
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